Nas últimas semanas, a construção de mais uma hidrelétrica na região amazônica gerou uma campanha reativa do Greenpeace. Tenho amigos, conhecidos, professores e outras pessoas das quais gosto muito (ou tudo isso junto) que embarcaram nessa.
Imagem Greenpeace
Acho que algumas informações precisam ser melhor apresentadas.
A bacia do Amazonas é a grande fronteira de energia mais limpa e barata do nosso país. Mesmo que não nunca se construa hidrelétricas no Amazonas propriamente dito, a referência é esse imenso rio. Existe um plano nacional de energia (PNE) que estabelece como meta para 2030 gerar aproximadamente a metade da energia hidrelétrica do país (120 mil MW, cento e vinte mil megawatts) a partir da Amazônia. Esse número tem a ver com o plano para o desenvolvimento do Brasil, de ocupação de empresas e de pessoas.
Existem três formas de geração de energia para grandes populações: a partir de energia nuclear, a partir de queda d'água de lagos ou de represas (hidrelétricas) e por queima de combustível fóssil. Todas as outras formas são disponíveis apenas para pequenas populações e usos. Se você conseguiu uma quarta forma de geração de energia, corra, patenteie e depois me mande um postal das Maldivas, lugar agradável que você acaba de comprar.
A queima de combustível fóssil (carvão, gás, diesel, ...) gera CO2 (para sempre e abundantemente), mas tem a vantagem de poder se construir essas termoelétricas bem ao lado de onde haverá consumidores (não se perde energia nas linhas de transmissão).
A energia nuclear, coitada, é objeto de uma relação de amor e ódio, como os vilões das novelas. As vezes, houve juras de amor, mas agora ela é rejeitada. De todas, é a mais compacta, a que ocupa menos espaço, a que gera menor volume de resíduos (porém os mais perigosos) e que tem mais informações desencontradas a seu respeito.
No tocante à energia hidrelétrica, os impactos ambientais de uma represa (que gera o lago) formam uma lista longa e bem conhecida: perda de solo, da fauna e flora, de monumentos e outros recursos naturais, além de modificações da geometria hidráulica do rio. A criação do lago, que será o reservatório de energia para a usina, promove, no atacado: o isolamento das espécies, prejudica a migração e a reprodução dos peixes, aumenta o índice de extinção dos animais e aumenta a emissão de gases de efeito estufa.
Uma usina hidrelétrica situada na Amazônia, devido ao relevo pouco acidentado da região, cobrirá algumas centenas de milhares de quilômetros quadrados para gerar alguns poucos metros de altura do lago.
Mesmo com todos esses problemas, a geração de energia a partir da queda d'água é a mais limpa( e barata) de todas.
Uma das soluções propostas é, devido à sua localização próxima ao Equador, substituir a geração da hidrelétrica por de energia solar.
A maior usina de energia solar do Brasil, a Usina Fotovoltaica Cidade Azul, está situada em Tubarão, no sul de Santa Catarina.
Trata-se da maior usina solar do país com potência de 3 megawatts (MW), o suficiente para abastecer 2.500 casas todos os dias. É praticamente um quarto de toda a energia solar produzida no Brasil, numa área de 10 hectares (0,1 km2).
Como a quantidade de energia gerada por usina solar é muito baixa, vamos imaginar que podemos construir uma mil vezes maior. Para se obter uma usina que produzisse 3 mil MW basta multiplicar por mil, então uma usina solar que produzisse 3 mil MW ocuparia um espaço de 0,1 mil km2.
A idéia é relacionar a ocupação do solo com a produção de energia elétrica (aproximadamente) de usinas hidrelétricas. Assim, a conta é a geração de energia dividida pela área do lago: Uma relação muito favorável entre a área alagada e a energia produzida é registrada em Itaipu com 10 MW/km2, Tucuruí produz 2,5 MW/km2 e Balbina aparece na lanterna com somente 0,1 MW/km2.
A figura abaixo tem os números para algumas hidrelétricas localizadas no Brasil
O número dentro da bolinha amarela é o valor de energia(em mil MW) que é gerado e o número logo acima mostra a área alagada (em mil km2).
Como comparar a energia gerada em uma hidrelétrica e uma usina solar? Calculamos qual seria a energia solar gerada em uma área de 0,1 mil km2 (imaginando que esta área imensa seria coberta por placas solares) e esta usina geraria 3 mil MW. O que acabamos de fazer foi criar uma usina solar fictícia que produz o mesmo tanto de energia (ou quase) do que a hidrelétrica de Xingó.
Entendam o tamanho do problema: para gerar energia elétrica a partir de placas solares, seria necessário cobrir toda essa área com elas (esquecendo que a conta não é nem de longe simples assim, mas apenas para ficarmos em números fáceis de serem obtidos). Ou seja, substituir o lago por um asfalto de placas de silício (de 100 km2, algo como 10km x 10km).
Um dos problemas que ocorre quando há uma área coberta por placas solares é a morte decorrente de queimadura dos pássaros que inadvertidamente cruzam este espaço aéreo. Isso sem falar na quantidade de silício que teria que ser extraída para confeccionar as placas.
Todas as formas de se gerar energia elétrica causam algum tipo de dano ao meio ambiente. Todas. Não existe energia limpa, energia verde, nada disso. Criar uma campanha hoje em dia para impedir a construção de uma hidrelétrica é algo bem complicado. Você, que mora longe das pessoas que serão beneficiadas por um fluxo contínuo e perene de energia, briga por algo que não tem solução. A menos que você seja uma samambaia ou uma avenca, você não terá energia limpa na Terra.
Voltando ao início, quando eu falava de limpeza das cidades logo após jogar a lata de alumínio no chão, a contradição entre o que eu falava e meu gesto provocava uma reação dos alunos. Durante a construção da usina de Belo Monte, quando o diretor James Cameron (Avatar e Titanic) foi à Amazônia para protestar, alguém deve ter pensado "ei, por que você não faz um filme que dependa menos de efeitos especiais e de eletricidade?
Para saber mais:
Expansão da matriz hidrelétrica no Brasil: as hidrelétricas da Amazônia e a perspectiva de mais conflitos Socioambientais, Souza A. e Jacobi P.
Um projeto de R$ 30 bilhões http://arte.folha.uol.com.br/especiais/2013/12/16/belo-monte/?cmpid=menulate
Histórico, tendências e perspectivas no planejamento espacial de usinas hidrelétricas brasileiras: a antiga e atual fronteira Amazônica ,Evandro Mateus MorettoI;; Carina Sernaglia GomesII;; Daniel Rondinelli RoquettiIII;; Carolina de Oliveira JordãoIV Ambient. soc. vol.15 no.3 São Paulo Sept./Dec. 2012
Impactos ecológicos das represas hidrelétricas na
bacia amazônica brasileira, Wolfgang J. Junk;; J. A. S. Nunes de Mello, Estud. av. vol.4 no.8 São Paulo Jan./Apr. 1990
http://www.ecycle.com.br/component/content/article/69-energia/2890-o-que-e-energia-solar-como-funciona-radiacao-solar-painel-residencial-fotovoltaica-csp-he
HIDRELÉTRICAS E TERRAS INDÍGENAS NA AMAZÔNIA:
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL? Luciana Rocha Leal da Paz, tese doutorado na ENGENHARIA DA UNIVERSIDADE
FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
http://economia.uol.com.br/noticias/redacao/2014/08/29/usina-que-produz-25-da-energia-solar-do-pais-comeca-operacao-comercial.htm
http://economia.uol.com.br/noticias/redacao/2014/08/29/usina-que-produz-25-da-energia-solar-do-pais-comeca-operacao-comercial.htm
www.sonoticiaboa.com..br em 05jul2016
globo.com em 10/03/2011 - 12:18 - ATUALIZADO EM 11/03/2011 - 11:46 O tabu das hidrelétricas na Amazônia
energiaambiente.com.br em 05 jul 2016
Construção de hidrelétrica na Amazônia provocou extinção de animais, globo.com em 05 jul 2016