sexta-feira, 28 de novembro de 2014

Água, vai um copinho ai? Quais são as soluções para a falta d'água na Região Metropolitana da São Paulo

Não jogue fora o balde velho até que você saiba se o novo segura a água.
                                                                                                        Proverbio sueco
                                Catarpe, Atacama
Uma parte do Estado de São Paulo está passando por uma crise grave no abastecimento de água. As águas que nos banham e nos alimentam provem de diversas fontes, um site utilizando dados da Sabesb fez uma animação bacana, mostrando diariamente como está o nível de cada um deles, o da Cantareira estava assim:
                               Site http://nossaaguasp.com
Infelizmente, quase todos os reservatórios estão com o nível de água baixo e não haverá melhoras significativas num futuro próximo. Vivemos, aqui na capital, sob um clima subtropical e antes que você vá pegar os livros de geografia do colégio, este clima é aquele em que no inverno chove  pouco e é seco ( as pessoas tomam choque ao entrar nos carros). No verão, quando estamos agora, além do calor temos chuvas e tempestades. É nesta época que se espera que se encham nossas bacias. Porém, com a seca dos últimos anos que está associada as mudanças climáticas isso provoca uma diminuição das chuvas. Outros culpados também aparecem como a falta de planejamento e de investimentos nesta área. Estudos mostram que o problema climático irá se intensificar, é isso, São Pedro não irá colaborar.

O que se tem feito é procurar rios para desviar uma parte do fluxo e alimentar os reservatórios. Isso é sempre complicado, representantes das cidades rio abaixo reclamam, com razão,  de qual será esse volume redirecionado anualmente, prefeitos  e secretários cobram explicações e propõem cortes nesses números.

Se não se pode obter água dos rios de onde então ela pode vir? Duas soluções são empregadas mundo afora, e estão sendo analisadas para solucionar nossa falta d’água e matar a nossa sede. A dessalinização da água do mar (do oceano Atlântico) e a utilização da água de aquíferos.

Uma forma interessante de se conseguir água doce é fazer a dessalinização da água do mar, a cidade de São Paulo está a quase 800m de altura em relação ao mar. Então teríamos que projetar uma usina de dessalinização para abastecer uma população de uns 20 milhões de pessoas e depois empurrar essa aguaceira toda morro acima da Serra do Mar. Quem estiver interessado nos dinheiros para se montar um usina assim e outras informações há um outro texto que já publiquei onde aparecem os números utilizados no mundo para isso.

Etimologicamente, aqüífero significa: aqui = água; fero = transfere; ou do grego, suporte de água. Aqüífero é uma formação geológica (do subsolo), constituída por rochas permeáveis, que armazena água em seus poros ou em suas fraturas, é uma caixa d’água natural enterrada que juda a evitar, entre outros fenômenos o transbordamento de rios, absorvendo o excesso da água em casos de chuvas intensas.

O Brasil é um pais cheio dessas águas, são pelo menos 21 aquíferos que estão sob nossos pés. O Estado de São Paulo é todo recortado, no desenho são mostrados essas reservas de água. Os dois melhores (maiores e mais volumosos) são o Bauru e o Guarani. Os outros são profundos e com baixa vazão o que inviabiliza trazer água lá debaixo da terra para cá por um volume tão pequeno (pensando na população que vive na região da capital).

Mas, mesmo tendo água ela pode ser utilizada? 
A resposta é sim, praticamente todos os países do mundo, utilizam água subterrânea para atender a população não importando o grau desenvolvimento, assim a Alemanha, Áustria, Bélgica, Dinamarca, França, Holanda, Hungria, Itália, Marrocos, Rússia e Suíça encontram em águas subterrâneas entre 70 a 90% da demanda para o abastecimento público , alguns países como Dinamarca, Arábia Saudita e Malta atendem totalmente seus habitantes a partir desses reservatórios.

Chegando mais perto do nosso problema, em São Paulo, a região centro-norte que engloba Ribeirão Preto, São José do Rio Preto, Araçatuba, Presidente Prudente, Marília, Bauru, e as aquelas cidades entre essas são atendidas pelos aqüíferos Bauru e/ou Guarani. A expressão utilizada para a paz que esta região tem relativamente a água é segurança hídrica.
                                              Aqüíferos presentes no Estado de Sao Paulo fonte
                            http://www.ambiente.sp.gov.br/aquiferos/os-aquiferos-de-estado-de-sao-paulo/                  Aqüífero Cristalino em verde claro ao longo da costa do Atlantico
Aqüífero São Paulo, sob a cidade
Aqüífero Guarani na área azul escuro no centro do Estado
Aqüífero Bauru em azul escuro a oeste, até a divisa com Mato Grosso do Sul

mas qual é a diferença entre os aqüíferos ?
volume, vazão em que a água pode ser retirada, profundidade, recarga e potabilidade
aqueles que estão mais próximos (ou abaixo)a cidade de São Paulo apresentam as piores índices enquanto os aqüíferos Bauru e principalmente o Guarani (que está entre as maiores reservas de água doce do mundo) são muito melhores. Estudos estão sendo desenvolvidos por geólogos da USP para encontrar a melhor solução para abastecer a região metropolitana. Antes de trazer a água desses aqüíferos para a cidade de São Paulo, um dos caminhos é o de levar água primeiramente para as cidades mais proximas a eles mas que são atendidos pelos mesmos reservatórios que Sampa. A região que comporta a cidade de Piracicaba esta nesta lista, e a idéia é levar água do Guarani para lá, assim o consumo da Cantareira que a abastece cairá.

Últimas
o Aqüífero Guarani é a nossa maior reserva da água doce, ele está espalhado sob o solo de 4 países, além do Brasil este volume de água desce em direção ao sul passando pelo Uruguai, a Argentina e o Paraguai. Ainda não se sabe ao certo o volume total de água estocado lá. Quando se usa a água de um aqüífero deve-se pensar em como será feita a sua recarga, em como ele irá manter seu nível/volume de água (se autocompletar) ou seja o consumo tem que ser feito de forma planejada e sustentada.  Um projeto direcionado ao Aqüífero Guarani está em curso feito por representantes dos 4 países de maneira a trocar informações, planejar o consumo das suas águas, sua recarga e de como será seu uso para as futuras gerações.

Porém, mesmo com a  importância do Aqüífero Guarani, as atividades humanas, sobretudo as industriais e agrícolas, têm provocado a contaminação das suas águas. Os maiores vilões desse processo são o agrotóxico utilizado na agricultura e o vinhoto (resíduo da destilação fracionada da cana-de-açúcar), que percolam o solo e atingem este reservatório.

Com a falta de água já existente na região da capital muitos poços artesianos estão 
sendo perfurados (estima-se que mais de 20.000 só em 2014). É a população agindo 
contra a falta de planejamento das autoridades. Apesar de  ser a favor de todas as ações 
que visem a liberdade de ação (de expressão, de comunicação) neste caso em particular
fico preocupado com o livre uso da água sem a supervisão do governo. Explico, tenho
várias dúvidas a respeito, como por exemplo: quanto de água está sendo consumida? a qualidade/potabilidade da água mudou após a abertura do poço mas quem controla ou
fiscaliza isso? Como saberemos se o que está sendo consumido não vai secar o 
aqüífero? quem está fazendo essas contas? Vai ter água deste reservatório para as 
próximas gerações?

Dessa forma, a boa notícia é que as pessoas estão se protegendo de uma escassez que
não deveria ser assunto das suas vidas.

Como sempre, para mais leituras sobre o tema, seguem algumas referências:
 Relatório Aqüífero Guarani, Plano Estratégico de Ação, em pdf, obtido em


Relator da ONU: seca não tem solução no curto prazo em terra.com.br em  24 de novembro de 2014 • 17h58 •