sábado, 31 de janeiro de 2015

Jacques Cousteau e as correntes oceânicas

Um francês magrelo se arriscava com encomendas que atravessavam a França, em 1943, em plena 2a guerra. Eram pedaços de latão e de bronze, cilindros e tubos, tudo altamente suspeito durante um período de conflito mundial. Jacques-Yves Cousteau corria perigo não apenas relativo a sua vida mas das pessoas que assim como ele sonhavam em conhecer os oceanos. O mundo não sabia o que acontecia no interior dos mares, a ciência era cega nesse mundo, não havia como observar.

 Cousteau criou equipamentos, respiradores, cilindros, roupas e técnicas de mergulho todos eles necessários para a observação científica dos oceanos. Ele foi uma versão caiçara de Issac Newton que quando estava desenvolvendo suas teorias no campo da  Física e lhe faltava a matemática necessária para comprovar suas teorias, o nobre bretão não se apertava e ele mesmo desenvolvia o Cálculo(matemático). Cousteau fazia o mesmo, quando ele precisava de algum equipamento ou dispositivo que não existia, ele, que comandava um pequeno exército de pessoas altamente capacitadas, desenvolvia. Como nunca ninguém havia desbravado as profundezas dos mares, Cousteau foi o primeiro a bater recordes de permanência, profundidade tudo isso para capacita-lo a fazer suas observações.
Jacques-Yves Cousteau (1910-1997) por Luis Marden, Nat Geo 1998 feb, pp71, escreveu dezenas de artigos para a National Geo.
Cousteau investigou as marés, o comportamento dos peixes, das correntes marítimas, mas mais importante que todos os seus trabalhos, abriu para o mundo a possibilidade de se estudar os oceanos.

Um trabalho que é muito relevante para se entender as variações da temperatura da Terra é o estudo das correntes oceânicas que dão a volta em todo o globo terrestre. Essas correntes podem ser basicamente divididas em dois tipos em função da temperatura, as de água quente tem cor mais amarela/avermelhada nos desenhos, e por serem quentes estão na parte de cima mais próximas a superfície. E as correntes frias, mais densas, e por isso ficam mais abaixo. A água fria (ou a quente) por possuir densidade diferente da água que a circunda pode ser considerada um outro fluido e acaba não se misturando.
Duas figuras representam bem essas correntes, uma bem bacana e comportada, onde essas correntes são chamadas de correias transportadoras (conveyor belt mesmo nome dado a esteiras que transportam minérios em uma mina).

A outra imagem, é a que eu mais me divertia quando dava aula sobre mudanças climáticas, contem a mesma informação desta figura ai em cima, porém em um desenho cubista. Da a impressão que vai cair, mas como eu disse é bem mais divertida.

Este é o desenho de um pedaço do globo mostrando o nordeste brasileiro na parte de baixo, o Caribe, a costa leste americana, o Atlântico Norte e um pedaço da Europa.

Ambas as figuras mostram como essas correntes mudam de temperatura de acordo com a região do planeta. Na região do Caribe a temperatura é mais elevada, próximo ao norte do planeta a temperatura é mais baixa(vale a mesma coisa para a região sul). Esse movimento do oceano procura equalizar a temperatura da Terra onde está muito fria a água, que esta fria, vai para regiões de temperaturas mais altas. Esse sistema funciona como o radiador de um carro, trocando o calor de uma região com a outra. 

Para se medir essas temperaturas utilizam-se um sistema de bóias que afundam, medem a temperatura entre outros parâmetros do mar (como densidade e salinidade) e depois de um tempo essas bóias emergem e mandam os dados coletados para satélites.

Essas correntes oceânicas, ou como o outro nome diz, essas correias transportadoras, transportam o calor de uma região mais quente para uma mais fria. 
O que tem ocorrido nestes tempos?
As regiões polares tem perdido camadas de gelo, e esse gelo derretido (que é água) vai para mar a uma temperatura de 0 oC (a zero grau celsius). E então, o que acontece? Um volume maior de água gelada cai nessa correnteza, indo para as águas mais quentes e resfriando essas águas, abaixando a temperatura das águas dos mares dos trópicos.

No filme Um dia depois de Amanhã é isso que ocorre com a Terra, há um degelo, essa água vai para o mar, isso promove um abaixamento da temperatura dos mares, as correntes oceânicas transportam essa água de temperatura mais baixa o que provoca um abaixamento da temperatura da Terra. Esse processo de aquecimento e de resfriamento, aqui vai mais uma referência cinematográfica, é o mesmo que acontece na franquia a Era do Gelo,  e é o ciclo da Terra a cada (mais ou menos) 300.000 anos. Ou seja, após cada período desses nosso planeta esquenta e esfria. 

As mudanças climáticas ocorrem por uma série enorme de fenômenos da natureza como o ciclo de tempestades solares, o movimento da Terra que a cada dezena de milhares de anos (muda o eixo, muda a posição em relação ao sol, o reflexo da superfície do nosso planeta, os ventos que cruzam a Terra e as correntezas oceânicas.

Cousteau abriu as portas de vários mundos, não só daqueles que adoram mergulhar, mas da ciência, não sei onde ele mirou quando quis começar a fazer equipamentos de mergulho em plena guerra, mas ele acertou em vários alvos.



a referência deste texto é o livro, maravilhoso, escrito por Jacques Cousteau, O mundo Silencioso.













domingo, 18 de janeiro de 2015

Vamos reciclar essa máquina bípede

Normalmente escrevo aqui sobre assuntos relacionados ao meio ambiente, hoje vou escrever sobre reciclagem, mas sobre a reciclagem que nós, de quando em quando devemos fazer.  
a reciclagem começa agora e são três casos.

Como boa parte da população do nosso país vive próximo ao mar, aproveitamos o calor deste final de semana e fomos nos juntar a esse povo todo que se banha no Atlântico.
Perto da casa da minha família na praia tem uma padaria que, o dono, gentilmente coloca uma estrutura de madeira vazada, para que as pessoas apóiem suas bicicletas enquanto estão fazendo compras.  Essa armação fica no estacionamento, ocupando a vaga de quase dois carros. Mesmo estando na praia, onde não se tem nem muito horário nem pressa, carros paravam em frente a armação e nós ciclistas, acabávamos deixando nossas magrelas espalhadas pela entrada. O que sempre me deixou num misto de intrigado e indignado foi que carros bacanas, caros paravam lá. Carros, cujos donos certamente viajam para fora do país. Sempre fiquei curioso em saber se esse pessoal que impede que uma coisa simples como um apoio para bicicletas funcione, age quando está, sei lá, na Holanda.  Hoje, como a vaga para bikes estava sendo ocupada por carros o dono do lugar decidiu colocar a armação dentro do espaço onde as pessoas andam.

Estava lendo umas postagens no facebook e li uma que a noticia não era de espantar mas os comentários … A noticia era sobre o aumento do valor da multa para quem ultrapassa um outro carro em lugares onde isso é proibido. Os comentários falavam sobre os dinheiros envolvidos nessa contravenção (será que é?), não ultrapassem, tá muito caro! O que me assustou é que ninguém estava lá muito preocupado com o fato de que o trânsito no Brasil mata mais gente do que várias dessas guerras que a gente nas escuta nas mídias somadas. Alguma coisa como 50.000 mortes por acidente de trânsito e as pessoas estavam preocupadas com o valor da multa? 

Ciclofaixa e ciclovias
a cidade de São Paulo está sendo cortada por caminhos livres para o trânsito de bicicletas. Longe de entrar na discussão se está certo ou não, a instalação dessas faixas para ciclistas irá mudar a cara da cidade nos próximos anos. Para quem nunca andou, pelo menos aos domingos funciona assim, nos faróis dos cruzamentos onde não foi possivel fechar a rua, pessoas contratas especificamente para uma função muito importante atuam. Essas pessoas sinalizam quando o farol(semáforo ou sinaleiro) fecha, então além do vermelho do sinal há um camarada com uma bandeira fechando a faixa. Mesmo assim, muitos ciclistas passam ao largo e cruzam a rua com o vermelho ali, avisando que não era para fazer isso. 

A reciclagem que mencionei no começo do texto é a nossa própria, de nós mesmos, acertar e começar a seguir pequenas regras, respeitar a faixa, não passar no vermelho, pequenas mudanças no nosso comportamento para fazer a cidade melhor. Fazer uma gentileza (que em alguns casos nem precisaria ter placa) como lugar reservado para gestantes e idosos, caramba tem que ter placa para dar lugar para uma grávida?

uma música para uma boa semana,
https://www.youtube.com/watch?v=cBSeEcFiTWA




domingo, 4 de janeiro de 2015

Latinha no chão não é lixo é dinheiro

Um ótimo 2015 a todos!
Vamos começar o ano com um tema bem caseiro, a separação de recicláveis em nossas casas, abraços
                                                         Nat Geo de 2009, set p6, infelizmente sem o nome do fotógrafo
Numa das festas de Natal que acontecem na minha família, estávamos recolhendo o que havia sobrado e separando o lixo. No condomínio em que foi a festa há uma cooperativa que recolhe os resíduos recicláveis, então coloquei papeis, plásticos e as latas de refrigerante. Para minha surpresa, meu primo me disse que a cooperativa recolhe apenas os metais.  
                                            https://recilux.wordpress.com/2014/08/04/brasil-e-lider-mundial-em-reciclagem-de-aluminio/
A explicação é bem simples, o preço médio pago por papel é de R$ 0,20, pelo PET é de R$ 0,30 e para latinhas de alumínio sobe até R$ 2,20, todos por um quilo de material reciclado. Assim como o capitalismo venceu o socialismo no mundo, ele venceu na reciclagem também. É mais fácil, e por que não dizer mais lucrativo, trabalhar com um material que gera mais renda. O meio ambiente sai pela porta dos fundos, meio cabisbaixo e triste. 

Com esse valor por quilo de latinhas de alumínio, o Brasil está entre os primeiros do mundo em reciclagem, com um índice assombroso, de cada 100 latas produzidas apenas uma é perdida e não é reciclada, estamos nariz com nariz com o Japão neste campo. 

Para produzir o alumínio a partir do minério (a bauxita, que deve ser falada como taxi pois ambas têm origem francesa) é necessária uma quantidade enorme de eletricidade para fazer a separação entre os átomos de alumínio e os de oxigênio. O principal composto da bauxita é o Al2O3 que passa por um processo que tem o nome de edução eletrolítica,
(é ai que a energia elétrica é gasta). Esse custo de eletricidade corresponde a metade do valor do alumínio. Quando se dispõe de latinhas e não o minério como matéria-prima esse consumo cai a 5% de energia elétrica para fazer o mesmo alumínio, com as mesmas características físicas. 

Uma parte da energia elétrica gerada pela usina de Tucurui é utilizada para produzir alumínio.
                                                        Usina de Tucurui https://ontolo.wordpress.com/tag/impacto-ambiental/
O tipo de resíduo que geramos é função da nossa renda, quando mais rica for a cidade (a população) mais rico será o lixo e mais latinhas haverá no cesto. Por esse caminho, os catadores de cidades mais pobres também recolhem recicláveis menos rentáveis. 

As cidades de menor renda geram mais embalagens de menor custo, como o PET das garrafas de refrigerantes e esses vasilhames são recolhidos. Nas cidades mais ricas sobram essas embalagem pois os catadores preferem carregar as latinhas, que eles sabem que estão por ali e não as garrafas PET que ocupam grande volume e valem menos. O índice de reciclagem do PET está acima dos 50%, mas e se fosse reciclado 100%? haveria demanda para toda essa matéria-prima? Sim pois calças jeans e vassouras hoje em dia são feitas de PET reciclado e há falta. E hoje o que não é reciclado?  Acaba ornando nossos rios e lagos.
                                                            http://www.bms-services.com/pollution-discussion-questions/
E o título do texto? isso é o que falo ao meu filho quando bebemos algo na rua e sobra uma latinha, não, não põe no lixo não, põe no chão alguém vai vir pegar (há uma pesquisa que mostra o tempo de vida de uma latinha de aluminio deixada no chão na Paulista, ela some em menos de 3 minutos).




http://www.scielo.br/pdf/esa/v17n2/a06v17n2.pdf
http://www.amda.org.br/?string=interna-projetos&cod=30