segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Nós, a Mudança de Clima e sir Nicholas

De tempos em tempos um órgão da ONU chamado UNEP (algo como Programa para o Meio Ambiente da ONU http://www.unep.org) lança um relatório sobre as mudanças climáticas que estão ocorrendo e que irão ocorrer na Terra durante este século. Conforme o tempo vai atravessando estes primeiros 100 anos do novo milênio, maior a certeza no que se refere a mudanças.
                                        NatGeo june 2011 - foto Greg Girard
O relatório finalizado em setembro é o quinto da série. É um documento feito com a colaboração de 259 cientistas de 39 países, o Brasil inclusive, com mais de 54.000 comentários. Como ainda há incertezas e interesses envolvidos, esse relatório foi emitido com o curioso comentário "aceito mas não aprovado em detalhes".
Como todo documento científico que se preze ele começa descrevendo e quantificando algumas expressões que serão utilizadas ao longo do texto, assim praticamente certo significa uma certeza entre 99 a 100%,  muito provavelmente quer dizer uma certeza entre 90 a 100% e por assim vai. De maneira a deixar o leitor menos concentrado em números e mais no texto mas sem perder a matemática e a precisão da coisa.

O texto se baseia nos trabalhos científicos de pesquisadores que mediram eventos unitários tais como: medida da temperatura da superfície das águas, da variação temperatura ao longo dos dias, da quantidade de emissões feita pela homem na atmosfera, da quantidade de calor trocada ao longo do ano pelos mares, quantidade e intensidade de tufões, quantidade de ondas de calor, mudança no nível dos oceanos.  São mais de 2.200 páginas com gráficos, textos, tabelas e anexos, que são explicados de maneira didática(como deve ser) para que as pessoas possam acompanhar sem sustos por estar fora da sua área de conhecimento específico.

Alguns dos resultados, os mais interessantes,  previstos para o final deste século são mostrados abaixo:

Fenômeno ou                                                 Prognóstico
Direção da Tendência

Dias/noites de calor ou                                  Praticamente certo entre 99 e 100% certeza
de pouco frio em áreas terrestres 

Chuvas de elevada precipitação                    Muito Provavelmente, entre 90 e 100% certeza
Aumento na frequencia e na intensidade

Aumento da Incidência ou da magni             Muito Provavelmente, entre 90 e 100% certeza
no nível mais elevado dos mares 
                                          NatGeo june 2010 - foto James Balog
A influência humana está detectada no que se refere ao aquecimento da atmosfera e dos oceanos, com mudanças no ciclo da água e na redução das porções de neve e de gelo (como mostrado na foto acima da Groenlandia). 
Todas as mudanças que ocorrerão não serão uniformes, dai a razão de se falar em Mudanças Climáticas e não simplesmente em Aquecimento Global.

De maneira unificada e organizada a UNO também gerou um relatório sobre o Desenvolvimento Humano neste ano. Várias surpresas apareceram neste documento, uma delas, a que nomeia o relatório é o grande avanço no que se refere ao desenvolvimento humano da região sul do planeta, a outra é a influência do clima no bem estar das pessoas (http://hdr.undp.org/hdr4press/press/report/index.html). O que foi demonstrado é que o clima ou as Mudanças Climáticas afetam a todos, mas principalmente as comunidades e os países mais pobres antes. Há um breve texto publicado no The New York Times (http://rendezvous.blogs.nytimes.com/2013/03/18/environmental-woes-cloud-reverse-global-development/? r=0) bem bacana sobre esse assunto.

Mas, dos textos que tratam sobre a influência do clima nas pessoas o meu predileto é o do economista inglês Nicholas Stern (http://webarchive.nationalarchives.gov.uk/2013012911040/http://www.hm-treasury.gov.uk/stern_review_report.htm). Nele, sir Nicholas descreve como as mudanças climáticas afetarão a economia mundial nas próximas décadas. Segundo ele, quando houver um aumento da temperatura e se você trabalhar em um escritório, basta você se encaminhar até o controle de temperatura do sistema de ar-condicionado e baixar a temperatura. Porém, para aqueles que vivem da agricultura, ou da pesca restrita a pequenas regiões, esses serão afetados bruscamente e não terão ferramentas para contornar tal efeito.

E como nós podemos ajudar? há várias maneiras todas muito simples, desligue sempre a luz quando você sair, se você for de carro até o trabalho chegue apenas perto, vá andando o resto do caminho. Para o meio ambiente menos e mais, compre menos!





quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Greenpeace, Ana Paula Maciel e a Gazprom

A maior empresa de gás natural do mundo é russa e se chama Gazprom. Uma de suas maiores consumidoras e sem dúvida a mais importante delas é a Europa. Da matriz energética européia o gás natural ocupa a segunda posição atrás apenas do óleo combustível.

A Gazprom irá extrair gás na área do Círculo Polar Ártico por meio de uma plataforma marítima (offshore). Diferentemente da Antártica, que é considerada um bem mundial e onde se pode fazer pesquisa mas não extrair comercialmente nada, o Ártico ainda é motivo de controvérsias territoriais e econômicas, principalmente porque possui reservas de gás e de petróleo.

O Greenpeace com o intuito de chamar a atenção do mundo para a construção dessa plataforma marítima numa área ainda pouco explorada articulou dois protestos nos últimos tempos.

Um desses protestos ocorreu em um jogo de futebol. As partidas da  UEFA Champions League são televisionadas e assistidas em todo o mundo, na final deste ano teve uma  audiência de mais de 150 milhões de pessoas, e foi transmitida para 200 países. Um ótimo lugar para um comunicado global. Os ativistas do Greenpeace penduraram uma faixa no teto do estádio. Durante o jogo de uma equipe que é patrocinada pela Gazprom, o time alemão Schalke 04, a faixa desceu e o árbitro teve que paralisar a partida por 5 minutos.
Num outro protesto, esse mais arriscado e cinematográfico, um grupo do Greenpeace abordou a plataforma da Gazprom no círculo polar ártico. Na foto abaixo, tirada em um barco que se aproximava da plataforma, uma bandeira amarela é segurada dando a sensação que uma plástico cobria toda a estrutura. Na abordagem foram colocadas faixas de protestos na plataforma.
Como conseqüência deste segundo ato o governo russo prendeu 30 ambientalistas que participaram da sua organização. São pessoas de várias nacionalidades inclusive a bióloga brasileira Ana Paula Maciel. Foram presos na cidade russa de Murmansk sob a acusação de pirataria. 

Segundo o dicionário Aurélio pirataria: dir assalto criminoso, no alto-mar ou na costa, praticado pela tripulação ou passageiros de um navio armado, de existência clandestina, contra um outro navio, para se apoderar da sua carga, bens, equipagem ou passageiros. Por essa definição, nada do que foi feito pelos ativistas passa perto de ser incluído na categoria de pirataria.
Se fosse possível roubar uma plataforma inteira, até o primeiro satélite produzido pelo homem, o Sputinik, seria capaz de encontra-lo! 

Os protestos organizados pelo Greenpeace atingiram os seus objetivos, as duas imagens, a da faixa pendurada em um estádio e a da plataforma cruzaram o mundo. Os jornais publicaram as histórias e as pessoas foram tocadas.

No Brasil, quando ocorrem protestos, caixas de correio são arrancadas, vitrines são quebradas, ocorrem saques em lojas e roubos de agências bancárias.  Essas manifestações, dessa maneira, são muito mais atos de pirataria e de bucaneiros  do que aquele do Greenpeace.

http://greenpeaceblogs.org/wp-content/uploads/2012/12/Save-the-Arctic-Gazprom.jpg
http://www1.pt.uefa.com/uefachampionsleague/index.html
http://www.gazprom.com/
http://g1.globo.com/mundo/noticia/2013/10/russia-acusa-formalmente-brasileira-de-pirataria.html